A programação do terceiro dia de atividades da Exposibram 2019 teve início com um importante painel: O “estado da arte” sobre as práticas em gestão de barragens de rejeitos. Tom Butler, presidente do International Council on Mining and Metals do Reino Unido, Michel Julien, vice-presidente da Agnico Eagle Mines do Canadá, Paul Ridlen, presidente da Knight Piesold dos Estados Unidos, Robert Cooke, diretor da Paterson & Cooke dos Estados Unidos, Todd Wisdom, diretor da FLSmidth dos Estados Unidos, e Victor Bicca, diretor-presidente da Agência Nacional de Mineração, foram os participantes.
Cada um dos especialistas fez uma apresentação de cerca de 15 minutos contando os diversos aspectos relacionados ao tema central do painel. Tom Butler abriu a conversa falando sobre a adoção de um padrão mundial de gestão para rejeitos, a partir de um termo de referência que sirva para estruturas em todo o planeta. A iniciativa tem apoio da UNEP (programa de meio ambiente das Nações Unidas) e dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI).
Butler destacou que a falta de um sistema global de parâmetros impede até mesmo a comparação entre os diversos métodos utilizados na construção e operação de barragens de rejeitos. “Não há como comparar os métodos sem a criação de um sistema global”, pontuou.
Segundo a falar, Michel Julien trouxe uma perspectiva de gerenciamento de barragens a partir da sua experiência com a Agnico Eagle, que possui minas de ouro no Canadá, México e Finlândia. O executivo pontuou os diferentes resultados atingidos em cada operação e reforçou a importância de adaptar os projetos com a realidade local, já que relevo, clima e produtividade são determinantes no dimensionamento e operação da estrutura.
Como alterar o cenário da gestão de rejeitos é a grande questão
Paul Riddle trouxe para o debate os problemas enfrentados pela indústria mineral para atingir o chamado “estado da arte”. O alto grau de decisão de áreas de suprimentos foi um dos pontos de atenção trazidos. “Essa equipe costuma direcionar suas decisões a partir de custos, o que deixa a qualidade do projeto de engenharia um pouco de lado. Isso pode, em longo prazo, significar problemas de segurança ou produtividade”.
Outra situação pontuada diz respeito a inovação no mercado. Riddle acredita que é preciso mudar o foco das iniciativas inovadoras, ainda muito focadas no beneficiamento de minérios e pouco presentes na gestão de rejeitos.
Inovação também foi tema da apresentação de Robert Cooke. O americano lembrou que o mercado costuma enxergar novas tecnologias como soluções mágicas para resolver problemas, mas muitas vezes procedimentos já existentes podem funcionar com mais eficiência.
Cooke destacou que é importante enfatizar o que devemos buscar ao dizer melhores estruturas de barramento: menos risco, menos custo e, principalmente, menos impacto ambiental e social. O diretor ainda mostrou exemplos de estruturas que adotaram como princípio a redução de água e também a diferença que manter os rejeitos o mais sólido possível faz em caso de rompimento.
Todd Wisdom foi o quinto a falar e levantou que as mudanças desejadas muitas vezes são atrasadas por conta de custos e da falta de vanguardismo entre as empresas. Ou seja, todas querem a mudança, mas nenhuma quer ser a primeira a tomar ação. Isso porque há uma sensação de alto risco na implementação de novas soluções.
Finalizando o painel foi a vez de Victor Bicca, que trouxe o histórico da legislação dedicada à segurança de barragens. O diretor-presdente da ANM detalhou as ações da agência nesse sentido. O acontecido em Brumadinho foi ressaltado como ponto de aprendizado: “O acidente nos mostrou que a legislação precisava ser ainda mais aperfeiçoada, assim como a fiscalização, desde janeiro temos tomado medidas para diminuir mais o risco de novas ocorrências”, contou.
No momento de debate os presentes puderam levantar questões relevantes sobre a atuação nacional na prevenção e remediação de acidentes, a partir dos ocorridos não somente no Brasil, mas em todo o planeta. O encerramento marcou ainda o lançamento do Guia de Boas Práticas para Gestão de Rejeitos, documento desenvolvido por diversos profissionais para servir como referência na gestão de rejeitos.