Folha de S. Paulo | Tecnologia comercializada pela Allonda é foco em matéria sobre despoluição do Canal do Porto de Santos

Uma técnica de engenharia estudada há décadas pelo corpo de especialistas do Exército americano está ajudando a despoluir parte do canal do porto de Santos. Apesar de bastante usado no mundo, o método que consiste em rechear com solo marinho gigantescos travesseiros feitos de uma lona superresistente está tendo, agora, uma nova aplicação.

No Brasil, é a primeira vez que os geotubos, como eles são chamados, são usados em larga escala para confinar material contaminado. O material sujo, ainda molhado, é puxado do fundo do mar para os grandes tubos. A água vai escorrer pelos poros da lona, mas o solo ficará preso ali para sempre.

MISTÉRIO:
A tóxica poluição por metais pesados (como cádmio e mercúrio) era desconhecida dos construtores, quando, há mais de quatro anos, as obras desse terminal marítimo de cargas, que será o maior da América Latina, começaram. Em frente ao gigantesco terreno, sob as águas, a poucos metros de profundidade, havia 580 mil metros cúbicos de material contaminado. Ninguém sabe de onde aquilo vem. Ou se o material foi jogado ao mar santista em uma outra época, quando o descaso ambiental era maior do que é hoje. Sem a retirada, a licença ambiental não sairia.

O método tradicional retirar todo o sedimento, colocálo em caminhões e jogá-lo em aterrosiria atrasar o cronograma de entrega em pelo menos dois anos.

Em um projeto que custa R$ 2,3 bilhões, qualquer atraso resulta em prejuízo.
“Com as geobags [termo também usado para se referir à técnica] adiantamos
a entrega da obra entre 24 e 36 meses”, afirma Henrique Marchesi, da construtora Odebrecht Infraestrutura. “A retirada por caminhões sairia até mais barato, mas optamos por essa outra alternativa”, diz o engenheiro, que não revelou o gasto com todo o processo.

FURACÕES:
No exterior, os chamados geotubos foram usados pelo próprio Exército americano para reconstruir, em meses, parte da costa de New Orleans, destruída por furacões entre 2005 e 2008. As estruturas eram enchidas de areia e empilhadas, para formar diques. Adaptar os geotubos para um processo de descontaminação é relativamente simples. Os geotubos têm 17 metros de largura por 65 de comprimento. Cheios, podem chegar a 2,5 metros de altura.

No caso de Santos, o material dragado vai encher 169 bolsas gigantes. O terminal, que receberá três navios ao mesmo tempo, será construído sobre os geotubos. Eles foram instalados atrás de um dique para não serem arrastados pelo mar. De acordo com Marchesi, o BID, um dos financiadores da obra ao lado do BNDES, não queria colocar dinheiro em um projeto que seria erguido sobre os geotubos. “Nós os convencemos”, diz o engenheiro brasileiro. Frase que também vale para a aprovação do Ibama, órgão responsável por dar o aval ambiental à construção.